Como rever o próprio texto?

No nosso dia-a-dia, todos escrevemos textos e procuramos que sejam o mais bem escritos possível. De relatórios a mensagens de correio electrónico importantes, passando por artigos, textos pessoais ou publicações para as redes sociais há de tudo um pouco. E também há sempre aquele momento em que pensamos se o que estamos a escrever estará correcto.  

É verdade que quem escreve nunca se deve rever a si próprio. Quem o faz está num processo criativo, pensa em muitas possibilidades de o fazer, na forma como o quer contar, nos detalhes que quer incluir, nos erros que não quer dar, entre tantas outras preocupações. Escreve, risca, volta a escrever, apaga, tenta escrever mais uma vez, volta a riscar. E às tantas já não sabe o que escrever ao certo.  

Da mesma forma que um médico quando está doente consulta outro médico ou um psicólogo faz terapia com outro psicólogo para alinhar a sua própria cabeça e poder ajudar da melhor forma quem precisa da sua ajuda, também o que escrevemos deveria ser revisto por um revisor, mesmo que quem esteja a escrever também o seja.  

No entanto, não é praticável ter alguém ao nosso lado vinte e quatro horas por dia para fazer isso por nós. Por isso, é muito importante seguir algumas dicas que permitam rever o próprio texto de forma eficaz. Neste artigo, partilho contigo algumas dicas que aplico na revisão diária da minha própria escrita. 

1. Escrever, fazer um intervalo, rever

Quando estamos a escrever, não nos devemos preocupar com os pormenores de imediato. Numa primeira fase, a preocupação deve ser organizar a forma como achamos que faz sentido expressar o que queremos dizer e escrevê-lo, sem pensar em possíveis erros. Rever deve ser o último passo da preparação do texto, mas, antes disso, convém fazer um intervalo. É muito importante deixar a mente abstrair do que foi escrito para que possamos olhar e detectar o que deve ser corrigido. Se o fizermos logo a seguir a termos terminado o texto, os nossos olhos irão estar viciados e vai haver gralhas que não iremos conseguir ver, por muito que achemos que já vimos tudo com muita atenção. 

2. Fazer uma lista do que devemos rever 

Quando revemos, devemos dividir a leitura por passos, conforme o que fizer sentido para o tipo de texto que estamos a produzir. Deve ser revisto tanto o conteúdo como a parte linguística. Numa primeira fase, devemos confirmar se a informação está mesmo correcta. Quantas vezes estamos a enviar uma mensagem por correio electrónico em que devemos incluir a data e a hora da bendita reunião e quando damos por ela fomos ver ao dia errado do calendário? Parece uma dica básica, mas a quem nunca aconteceu? Numa segunda releitura, devemos ter em conta a língua propriamente dita, como por exemplo, verbos, gramática, palavras que possam não estar bem-escritas, vírgulas, entre outros. Nesta fase, pode fazer sentido dividir a revisão. Se o texto tiver muitas vírgulas, por exemplo, podemos fazer uma leitura focada nesse detalhe e uma outra em que tenhamos atenção à gramática e a possíveis palavras aplicadas de forma incorrecta. Não há uma regra. Depende do tipo de texto e da organização mental de quem o revê. 

3. Ler em voz alta

«Um revisor deve ter um bom ouvido.» Desde eu aprendi que aplico em tudo o que escrevo. Por muito que achemos que ler para nós, em silêncio, nos ajuda a perceber a cacofonia da escrita, ler em voz alta tem outro efeito. Tendemos a usar sempre as mesmas palavras ou famílias de palavras num primeiro rascunho sem nos darmos conta disso. Assim, nesta fase, é importante ler em voz alta e prestar atenção aos sons e suas parecenças. Se nos parecer que há muitas rimas ou palavras com som semelhante, devemos procurar corrigir de forma a que quem vai ler tenha uma leitura harmoniosa e agradável. A nossa língua é muito vasta, pelo que ter um dicionário à mão pode ser útil na hora de pensar em alternativas.

4. O que não pode mesmo faltar

Tudo o que te indico em cima são pormenores importantes a ter em conta, mas gostava de destacar alguns aspectos que considero básicos. Atenção ao vocativo, às vírgulas entre sujeito e predicado, ao uso do verbo haver, à forma como escrevemos os numerais, à utilização de vírgulas em alguns casos que muitas vezes nos geram dúvidas. Estas dicas são úteis para a escrita de newsletter, artigos para blogues, mensagens de correio electrónico, e até para mensagens que trocamos diariamente nas redes sociais. Quantas vezes dizemos «Olá Maria» e não usamos a vírgula a separar o «olá» do vocativo «Maria»? Algumas, bastantes até. E uma das razões é já nos parecer normal, tantas são as vezes que não vemos isto ser bem escrito. 

Espero que estas dicas te sejam úteis e que comeces já a aplicar na tua escrita diária. Voltando ao exemplo do médico, quando um deles tem alguma dúvida não hesita em consultar um colega que o ajude a perceber e decidir o que fazer. Porque não fazer o mesmo com as tuas dúvidas? Pesquisa, tenta perceber, e, se for caso disso, pede ajuda a quem achas que te poderá ajudar.

PARTILHA ESTA PUBLICAÇÃO!

Deixa um comentário!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

NEWSLETTER

Notícias incomuns

Por aqui, irei partilhar, em primeira mão, ou, em alguns casos, talvez em única mão, as novidades do Lugar Incomum: últimos trabalhos, artigos partilhados no blogue, esclarecimentos ou reflexões sobre assuntos relacionadas com a língua portuguesa e com os livros, e, quem sabe, alguma partilha inesperada.