Na língua portuguesa, não se usa vírgula entre sujeito e predicado. Na teoria, todos sabemos isso, mas na prática nem sempre aplicamos esta regra.
Lembras-te de, na escola primária, nos ensinarem a usar as perguntas «Quem?» e «O quê?» para distinguir o sujeito do predicado? É exactamente isto que tens de fazer.
Na frase «O João foi à padaria», não há dúvidas que não existe vírgula entre o «O João» e «foi à padaria». Porém, a coisa complica quando a construção frásica não é assim tão simples.
Vejamos os provérbios. Por exemplo, «Quem tudo quer tudo perde». Como na oralidade tendemos a fazer uma pausa («Quem tudo quer [pausa] tudo perde»), quando escrito, usamos a vírgula. O que é ERRADO! Se respondermos à pergunta «Quem?», a resposta é «quem tudo quer». Se respondermos à pergunta «O quê?», a resposta é «tudo perde». Por isso, «quem tudo quer» é o sujeito e «tudo perde» é o predicado. Logo, não deve haver vírgula. E como este há muitos mais exemplos:
- Quem espera sempre alcança.
Sujeito: quem espera. Predicado: sempre alcança.
- O que os olhos não veem o coração não sente.
Sujeito: o que os olhos não veem. Predicado: o coração não sente.
- Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita.
Sujeito: pau que nasce torto. Predicado: tarde ou nunca se endireita.
Outro factor que leva a enganos são sujeitos longos. Por exemplo, «O carro que se despistou esta madrugada na A1 ao ultrapassar numa curva em excesso de velocidade e com pouca visibilidade ficou desfeito». Nesta frase, o sujeito é «o carro que se despistou esta madrugada na A1 ao ultrapassar numa curva em excesso de velocidade e com pouca visibilidade» e o predicado «ficou desfeito». Este é um bom exemplo de uma frase em que facilmente seria posta uma vírgula entre o sujeito e o predicado. Vê mais exemplos de frases com sujeitos longos:
- A cortina branca de linho oferecida pela minha mãe o ano passado nos anos está suja.
Sujeito: a cortina branca de linho oferecida pela minha mãe o ano passado nos anos. Predicado: está suja.
- As decisões sobre as medidas concretas que enquadrarão o novo confinamento só serão fechadas na reunião do Conselho de Ministros de quarta-feira.
Sujeito: as decisões sobre as medidas concretas que enquadrarão o novo confinamento. Predicado: só serão fechadas na reunião do Conselho de Ministros de quarta-feira.
- O jogo de futsal entre amigos que decorria no pavilhão do Centro Social acabou em tragédia.
Sujeito: o jogo de futsal entre amigos que decorria no pavilhão do Centro Social. Predicado: acabou em tragédia.
- O sucesso do penúltimo episódio da série A Guerra dos Tronos transmitido em Maio de 2019 deveu-se a o episódio ser decisivo.
Sujeito: o sucesso do penúltimo episódio da série A Guerra dos Tronos transmitido em Maio de 2019. Predicado: deveu-se a o episódio ser decisivo.
Há ainda outra situação que pode causar dúvida: quando o sujeito contém uma enumeração. Por exemplo, «As maçãs, as pêras e os diospiros estão muito maduros.» Neste caso, o sujeito é «as maçãs, as pêras e os dióspiros» e o predicado «estão muito maduros». Assim, a seguir a «diospiro», não deve ter vírgula. Vê mais exemplos de frases com enumerações:
- Passeios, festas, brincadeiras e idas à praia estão no programa do campo de férias.
Sujeito: passeios, festas, brincadeiras e idas à praia. Predicado: estão no programa do campo de férias.
- Aquele que não acredita, não vai à luta, não faz um pouco mais todos os dias nunca há-de ver a luz ao fundo do túnel.
Sujeito: aquele que não acredita, não vai à luta, não faz um pouco mais todos os dias. Predicado: nunca há-de ver a luz ao fundo do túnel.
- Pai, mãe, filhos, avós, primos e até o cão viajaram para o Sul para celebrar o Natal.
Sujeito: pai, mãe, filhos, avós, primos e até o cão. Predicado: viajaram para o Sul para celebrar o Natal.
Da mesma forma que te lembras de cantar a tabuada, lembra-te sempre de te perguntar «Quem?» e «O quê?» quando estiveres a rever os teus textos.
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