Palavras que podemos (e devemos) escrever em português

Quando escrevemos um texto, muitas vezes fazemo-lo de forma inadequada e nem nos damos conta disso. Se estamos a escrever um texto em português, das duas uma: ou escrevemos todas as palavras em português ou as palavras que escrevermos numa língua estrangeira terão de ser postas em itálico. Este é mais um pormenor a ter em conta na hora de rever o que escrevemos e que mostra cuidado, coerência e brio da parte de quem o escreve.

Dizemos (e escrevemos) muitas vezes que vimos algo na Internet. Na verdade, esta palavra pode ser traduzida para inter-rede, ou simplesmente Internete. Achas estranho? É normal, não estamos habituados a ver esta palavra escrita desta forma. Ainda dentro desta temática, temos ainda o site e o e-mail, podem ser ditos sítio da Internete e correio electrónico, respectivamente.

E quem tem pírcingues, pode praticar surfe? A pergunta parece descabida, e se calhar é um pouco. Na verdade, o objectivo era leres pírcingue e surfe ao invés de piercing e surf. Assim como pírcingue, também outras palavras com igual terminologia (-ing) podem ser escritas em português seguindo a mesma lógica, como dópingue (doping) e víquingue (viking). Além destas, há ainda o ringue. Na língua inglesa, diz-se boxing ring porque se fosse só ring significaria anel. Quando traduzimos para português, apenas se diz ringue porque esta palavra é sempre relativa ao boxe (ou pugilismo).

Em alguns sítios, vemos, por vezes, jihadista. Neste caso, nem é carne nem é peixe, e nem pondo em itálico resolveria o problema. Porquê? Porque em inglês é jihadist (sem «e» no fim) e em português jiadista (sem «h»). Temos também cartunes (cartoons) bonitos, feitos por cartunistas (cartoonist) com humor, que por vezes ilustram buldogues (bulldog). Também blogue (blog) e bumerangue (boomerang) podem ser escritos em português. Confesso, bumerangue foi, de todas, a que mais confusão me fez e a que mais me custou a adaptar. Quase precisei de uma vodca (vodka) ou de um gim (gin) para me ajudar a assimilar. E até dava jeito, sempre aquecia e dispensava o anoraque (anorak) ou a suéter (sweater).

Embora não soe a palavra inglesa, gilette é a forma como comumente designamos a lâmina de barbear. A sua origem tem que ver com o nome do inventor deste objecto (King Gilette), nascido nos Estados Unidos. Em português, fica gilete. O mesmo para jipe, que tem origem na marca que os produz, a Jeep. Trólei e râguebi também têm fonética semelhante à inglesa, mas diferem na forma como se escrevem na língua original, respectivamente, trolley e rugby. Pelo contrário, bacon pode ser traduzido para toucinho fumado.

Além do inglês, temos inúmeras palavras e expressões que vêm do francês, como matiné (matinée), musse (mousse), passe-vite (pass-vite) e sutiã (soutien). Existe algumas regras que podes aplicar e que te ajudam a perceber como podem ser escritas em português.

  • Palavras que terminam em «ier» em francês passam a terminar em «iê» em português. Exemplos: ateliê (atelier), dossiê (dossier), palmiê (palmier), tabliê (tablier).
  • Palavras que terminam em «ot» em francês passam a terminar em «ô» em português. Exemplos: capô (capot), complô (complot), pivô (pivot), robô (robot), tricô (tricot).
  • Palavras que terminam em «e» em francês passam a terminar em «a» em português. Exemplos:  limusina (limusine), manicura (manucure), pedicura (pédicure), raqueta (raquette), vitrina (vitrine).
  • Palavras que terminam em «on» em francês passam a terminar em «ão» em português. Exemplos: biberão (biberon), cupão (coupon), edredão (édredon), mação (maçon).

De Itália, adaptamos muitas palavras, principalmente da gastronomia. Quem adora ir à pizaria comer piza com extraqueijo? Eu não, mesmo quando escrita apenas com um «z». Também vila só deverá ser escrito com um «l» e não villa. Assim como confeti em vez de confettipanetone em vez de panettonericota em vez de ricottapanacota em vez de panacottaterracota em vez de terracotta. Estas são as correções mais simples.

No entanto, nem sempre a tradução para porquguês se limita a retirar um ou outra letra. Por exemplo, capuccino. Em italiano, quando a letra «c» aparece repetida de forma consecutiva, o som com que se lê é «tch», por isso, embora de escreva capuccino, lê-se «caputchino». Por este motivo, em português escreve-se capuchino. Pelo contrário, em italiano, quando a letra «ch» aparecem juntas, o som lê-se «que». Assim, deverá ser pistáquio e não pistacchio (que em português lemos «pistáchio» porque na nossa língua «ch» têm som de «x»), nhoque e não gnocchi.

Há ainda casos em que é necessário substituir uma letra por outra, ou fazer alguns ajustes às palavras, como expresso em vez de espressoravióli em vez de raviolitutifrúti em vez de tutti-fruttipeperone em vez de pepperoni.

Temos também expressões que usamos sem traduzir, como o caso dos paparazzi (ou, no singular, paparazzo). Este termo deriva de um antropónimo usado no filme La dolce vita, de Federico Fellini. Já grafitte (singular) e grafitti (plural), podem ser escritos em português como grafito e grafitos, respectivamente.

Sobre os acrónimos

Os acrónimos são palavras formadas pelas iniciais de palavras ou sílabas de determinado nome ou entidade e que se leem como um todo, sem soletrar as letras e sem pontos a separá-las. Por isso, quando temos um acrónimo em inglês, quando em português, pode alterar porque as palavras variam. Uns exemplos são mais conhecidos que outros: ADN e DNA, EUA e USAOTAN e NATOOVNI e UFOVIH e HIV.

Mas, o que tem de mal usar a palavra no original? Nada. Porém, se podemos valorizar a nossa língua e diminuir o número de palavras em itálico que usamos, tornando o texto mais limpo, porque não o fazer? Agora que já leste o artigo, vais tentar começar a aplicar no teu dia-a-dia? É melhor começares o quanto antes. Olha que bumerangue custa a entrar… 🙃

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