Sempre ouvi falar dos livros do Jorge Amado. O meu pai adora a obra dele e temos algumas edições lá por casa mais velhas do que eu.
Curiosamente, não tínhamos o Capitães da Areia. Não tenho por hábito ler reviews de livros. Vejo a categoria em que se encaixa e mesmo os resumos da contracapa leio na diagonal. Gosto de começar uma leitura sem expectativas, sem saber o que me espera e onde me vai levar.
E a história dos molequotes que vivem no trapiche levou-me muito longe. Deu-me a conhecer como era Salvador, e o todo o país em geral, nos anos 30 do século passado, o porquê de o Brasil ser violento e as questões sociais que muito contribuem para essa violência, numa época em que a varíola era uma epidemia e em que os policiais perseguiam e torturavam crianças de rua, mais por prazer do que por justiça.
É um livro que tem a ousadia de nos fazer reflectir no mundo em que vivemos, não só na realidade que temos no nosso bairro, mas também na que existe além-fronteiras e nas diferentes épocas. Grande parte da primeira edição foi apreendida e queimada em praça pública pelo Estado Novo em 1937. E percebe-se porquê: é um atentado a quem gosta de manter a mentalidade da sociedade fechada numa caixa aparentemente bonita. Aborda temas como a pobreza, a violência, a homossexualidade e, acima de tudo, a falta de amor.
Mesmo sabendo que a atitude de Pedro Bala, Gato, Sem-pernas, Boa-vida, Professor, Volta-seca, Pirulito, João Grande, Querido-de-deus e Dora não é as mais correcta, é impossível não sentir um carinho enorme por estas crianças obrigadas a ser adultas prematuramente e de uma forma tão violenta.
Já li este livro há uns anos e desde aí que quero meter-me num avião e ir a Salvador conhecê-los, conversar com eles e tirá-los daquela vida. 🧡
Não consigo definir um livro preferido, mas sempre que me fazem esta pergunta, este é um dos que me vem logo à memória.