31 de Dezembro de 2020

Vinte vinte foi inesperado. 

Há um ano, estava muito confiante, decidida a mudar a minha vida. E mudei, mas achei que este ano seria cheio de certezas e tinha-o imaginado com acontecimentos diferentes, profissional e pessoalmente. Como tantos de nós, não podia estra mais enganada. Muitos dos meus planos saíram ao lado, outros, que não eram para já, foram antecipados, e outros aconteceram mesmo. Acho que acontece isto todos os anos, a diferença é que o motivo desta vez é inédito. 

Em Março, quando fomos todos para casa, pensei muito se avançava ou não com este projecto, que na altura nem nome tinha. A instabilidade assustou-me e fez-me parar e pensar duas, três, quatro, cinco, tantas vezes em todos os passos que este Lugar teria de dar e no investimento financeiro e emocional que implicaria. Pensei adiar e até desistir. E depois respirei fundo e avancei, insegura, porém convicta de que vai demorar, mas vai dar tudo certo. Afinal, Roma e Pavia não se fizeram num dia, certo? Comecei a estar mais atenta a pequenos negócios e às suas histórias e percebi que muitos deles nasceram em alturas de crise. Se por um lado assusta muito, por outro é uma altura propícia porque a necessidade faz-nos sair da zona de conforto e conseguir aquilo que não pensávamos ser possível. O Li* tem ainda um caminho muito curto, pequeninho. E inversamente proporcional é a minha vontade de o fazer crescer, e de crescer com ele. 

O dia mais emocionante foi o dia em que o divulguei na minha conta pessoal. Recebi algumas respostas de pessoas que em algum momento da minha vida se cruzaram comigo e que percebi que me guardavam no coração com muito carinho. Outro facto engraçado foi perceber que a tantas pessoas já passou pela cabeça ter um cantinho no digital sobre tantos e variados assuntos. Senti que era aquele assunto sobre o qual ninguém fala, até alguém dar o primeiro passo e, de repente, percebemos que temos tanto em comum. Das coisas mais bonitas de andar por aqui é a descoberta de contas com partilhas interessantes, com as quais aprendo todos os dias e que acredito que também aprendem comigo. Pessoas que só conheço virtualmente, mas pelas quais tenho muita afeição, que me inspiram e que me passam uma energia muito boa. 

Foi também um ano que tive oportunidade de (re)descobrir o Alentejo. Foram dias calmos, de pôr a conversa em dia, dar muitos mergulhos no mar e reduzir as respostas a todas as perguntas a uma só: pão com manteiga. «Hoje, está encoberto. O que vamos fazer?» Comer pão com manteiga. «Amanhã a que praia vamos?» Comer pão com manteiga. «A que horas saímos?» Pão com manteiga. «O que almoçamos hoje?» Bom, aqui aceitava trocar a resposta por açorda. Passei a semana com o botão dos calções desapertado, e feliz. 

Tive ainda a oportunidade de voltar aos Países Baixos e acalmar a saudade daquele país onde cresci e aprendi muito.   

Outra coisa boa que levo deste ano é o assimilar de um conceito que ficou (ainda mais) presente na minha vida para não mais sair: o minimalismo. Já há uns tempos que o fui adoptando, mas acabava sempre por guardar isto ou aquilo porque pode sempre vir a ser preciso. Nada como um ano de mudanças de casa para me fazer passar dos carretos e destralhar tudo o que não uso nem tem valor sentimental. Ficar só com o que preciso mesmo ajuda-me a manter a cabeça igualmente arrumada.  

Deste ano, levo a certeza do incerto, com pujança e fé na vida. Não depende só de nós, mas podemos tornar tudo mais fácil e escolher sempre o lado bonito. 

Venha 2021. 🍀

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