Amesterdão enche sempre o coração

Os Países Baixos são um país muito especial para mim. Foi o primeiro país para onde viajei sozinha e o primeiro onde vivi pela primeira vez fora de casa dos meus pais. Foram tempos felizes, em que tive oportunidade de viajar por todo o país.

Já tinha decidido há muito que 2020 seria o ano de voltar, e tinha tudo marcado, até o mundo ter sido invadido pelo Covid-19. A viagem, inicialmente marcada para Abril, teve de ser adiada para Setembro.

Marquei a estada para um hóstel perto da Praça dos Museus, mas, devido à falta de turistas, fechou temporariamente e fomos encaminhados para um hotel a dois quarteirões. Ficava uns dez minutos a pé mais longe do que o hóstel e acabamos por ficar em condições melhores, por isso, acabou por compensar. O quarto era amplo, confortável, limpo e tinha duas janelas grandes, bem ao estilo neerlandês. Embora passássemos o dia todo fora, era agradável acordar e ter toda aquela luz natural e vista para as ruas bonitas de Amesterdão, onde as lojas são elegantes e bem decoradas. Andamos sempre a pé, o que ajuda a absorver o espírito da cidade.

Como da primeira vez visitei o Museu Van Gogh, desta vez não fui. Na altura, estive cerca de quatro horas para conseguir ver tudo com calma. Havia muita gente e tinha de esperar para conseguir ver bem os quadros. Queria aproveitar para visitar outros sítios, mas sem dúvida que este museu é obrigatório. Enquanto o grupo visitava o museu, aproveitei para ir até um café bonito e apreciar as pessoas a passar lá fora na rua, enquanto bebia um chá e escrevia o diário da viagem.

Também visitamos o Museu Nacional (Rijks Museum). É muito grande e tem mesmo muito que ver. Para visitas rápidas, não recomendo porque é enorme e é preciso tempo para ver, mas pela beleza do edifício e do conteúdo, vale muito a pena. As obras de arte estão organizadas por piso, que corresponde a um determinado período da história, e nesse piso estão dispostas por ordem cronológica. O que mais queria visitar, a famosa biblioteca, estava fechada para obras de restauro e só reabria ao público na semana a seguir. Não sabia deste detalhe e na altura fiquei bastante desapontada. Parece que vou ter de lá voltar, mais uma vez. 😀

Outro local de paragem obrigatória é a Casa Anne Frank. Aconselho a utilização do audioguia que disponibilizam — há em português e com uma boa dicção. Não vás com a expectativa de encontrar a casa tal como estava, com mobília, porque isso não vai acontecer. Depois de um período inédito e recente nas nossas vidas, em que o país parou e nos pediram para ficarmos todos em casa, faz-nos perceber a sorte que tivemos, apesar de tudo. A família Frank e os amigos viveram no Anexo durante cerca de dois anos, sem poder sair nem sequer ver a luz do dia, em circunstâncias bem mais terríveis. Acho que ninguém se imagina numa situação daquelas. No fim da visita, na loja das lembranças, vi O diário de Anne Frank em várias línguas, incluindo em português, e fiquei muito feliz de saber que a nossa língua estava lá representada.

Não visitei o Museu Heineken por não gostar de cerveja, nem do cheiro. Para quem gosta, dizem que vale a pena. O grupo demorou umas duas horas e meia na visita. Aprenderam um pouco mais sobre a história de empresa e os processos de fabrico da cerveja, os antigos e os actuais, naquela que foi a primeira fábrica da marca. No preço do bilhete, estão incluídas duas cervejas, que podem beber no fim. Enquanto o grupo estava no Museu Heineken, fui visitar o Museu Van Loon, uma casa da família Van Loon construída no século XVIII, embora só no século XIX tenha sido adquirida por esta família. Depois de restaurada, foi aberta ao público nos anos setenta. A visita é livre e podemos escolher a ordem pela qual visitamos as diferentes áreas da casa. A decoração é majestosa. As divisões que mais gostei foram a cozinha e a sala do piso zero com vista para o jardim.

Tiramos um dia para ir a Zaanse Schans, uma vila histórica de moinhos dos anos 1850, a cerca de 40 minutos de autocarro. Se a viagem tivesse sido em Abril, também teríamos ido a Keukenhof ver as tulipas, mas como só estão abertos de Março a Maio, teve de ficar para uma próxima. Eu já tinha visitado ambos os sítios, de bicicleta, quando lá vivi e foi das coisas que mais gostei. Em Zaanse Schans, a entrada na vila é gratuita, assim como em grande parte dos estabelecimentos. Visitamos a fábrica de queijo e a loja bonita que tinha, que vi em modo muito rápido por não estar a suportar o cheiro. Também visitamos a padaria, a loja de doces, o laboratório de chocolate, a mercearia, as lojas de lembranças, os moinhos, passeámos e vimos as casas bonitas que lá existem. Foi o único dia que choveu com mais frequência e passamos bastante tempo no restaurante a comer panquecas e a beber chá quentinho, enquanto falámos de tudo um pouco e nada ao mesmo tempo. Apesar de ter sido um dia de chuva, acabou por ser muito divertido e bem aproveitado. Para esta zona, o melhor é levar roupa quentinha pois a zona é bastante ventosa.

De um modo geral, a comida neerlandesa não é grande coisa. É tudo muito à base de fast food com muitos molhos. Durante o dia íamos petiscando aqui e ali para não perdermos muito tempo. Ao jantar fazíamos uma refeição mais composta. Uma coisa que não podem deixar de provar são as bolachas waffle de caramelo. São deliciosas, e muito doces, bem como eu gosto. Comia muito disso quando lá vivi. Outra coisa que é típico são as batatas fritas que se vendem na rua, mas isso já não aprecio e não sou capaz de comer uma dose inteira, muito menos mergulhadas em molhos, como normalmente vêm.

A quem é emigrante, ou mesmo a quem está apenas de visita, não deixem de passar na Casa Bocage. Fica na Haarlemmerstraat 111A e vende produtos portugueses: vinho português (incluindo Vinho do Porto), azeite Gallo, bolachas da Paupério (sim, bolachas da Paupério!), manteigas, queijo e atum açoriano, pastéis de nata avulso, arroz Cigala, entre muitos outros. Os portugueses que lá trabalham vão gostar de te receber e sentir o carinho de quem fala a mesma língua.

Para mim, que estive nos Países Baixos em tempos pré-pandémicos, foi muito bizarro ver o país praticamente sem turistas. Ir à Praça dos Museus e estar quase deserta é estranho, ainda mais agora, que nem as letras I AMSTERDAM lá estão. Consegui fazer fotografias de vários ângulos sem precisar de pensar em estratégias para que os outros não aparecessem. Simplesmente, não havia outros. Até na Rua Vermelha grande parte das montras estavam fechadas.

Na hora da despedida, custou-me voltar. A fase da vida é outra, os tempos são outros, mas via-me a ficar lá, no País das Bicicletas, onde já fui muito feliz.  🚲🧡

PARTILHA ESTA PUBLICAÇÃO!

Deixa um comentário!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

NEWSLETTER

Notícias incomuns

Por aqui, irei partilhar, em primeira mão, ou, em alguns casos, talvez em única mão, as novidades do Lugar Incomum: últimos trabalhos, artigos partilhados no blogue, esclarecimentos ou reflexões sobre assuntos relacionadas com a língua portuguesa e com os livros, e, quem sabe, alguma partilha inesperada.