A importância de parar

Algures em 2016, numa conversa com uma amiga, disse-lhe que não gostava do meu trabalho e que a nossa profissão deveria ser um passatempo do qual gostássemos muito. E, então, ela perguntou-me «O que gostas de fazer nos teus tempos livres?» E eu no mesmo segundo respondi «Ler!» E ela diz-me «Então, faz disso a tua profissão.» Como se fosse fácil. Na altura, achei a ideia impossível, um pouco parva até, mas a verdade é que este momento me ficou no subconsciente e, muito de vez em quando lembrava-me dele, sem nunca pensar verdadeiramente nisso. Andava ocupada na correria do dia-a-dia.

A vida foi continuando, outras oportunidades profissionais apareceram, e eu continuava a trabalhar no que não gostava, em modo piloto automático.

Até que no dia 25 de Abril de 2018, dia da Liberdade e uma quarta-feira soalheira em Lisboa, tudo mudou. Combinei com umas amigas ir ter ao miradouro de Santa Catarina, e tendo sido a última a chegar, sentei-me onde havia lugar, à beira de uma rapariga que estava sentada na nossa mesa, embora eu não soubesse quem era. Conversa puxa conversa e ela lá me diz que trabalha numa editora. Pedi-lhe que me explicasse o que fazia na prática e pensei como devia ser bom o emprego dela. Expliquei-lhe a minha paixão e ela disse-me que deveria fazer uma formação em Revisão de Texto, coisa que na altura pareceu-me até um exagero. Nesse dia, não jantei. Cheguei a casa, liguei o computador e só desliguei quando me inscrevi num curso de revisão que começava na semana a seguir.

Eu, que achava que sabia escrever bem porque sempre tinha lido muito, não podia estar mais enganada. Aprendi bastante e percebi que ia ter que trabalhar e praticar mais do que alguma vez imaginei, não só para assimilar como também para não esquecer. Para trás, estavam 28 anos de um português não tão bom quanto eu pensava e com vícios muito difíceis de mudar.

Enquanto fiz o curso e uns tempos depois de o ter terminado, mantive o meu emprego que não gostava porque há contas para pagar, mas continuei sempre a trabalhar na revisão e à procura de oportunidades. Pelo caminho, fiz trabalhos como trabalhadora independente e, desde Fevereiro deste ano que trabalho como coordenadora editorial numa editora de manuais escolares.

Pensei e delineei este projecto, que durante muito tempo não teve nome, ainda antes de estar na editora. Pelo caminho, fiz um workshop sobre gestão de redes sociais, e, mais uma vez, percebi que não era assim tão simples e que tinha que me dedicar também a esta parte. Fiz ainda um workshop só sobre o Instagram e outro sobre fotografia. Eram as informações base e necessárias para começar e manter o Lugar Incomum. Ainda mais formações e cursos virão. E tantas outras coisas.

Ter sonhos e não desistir deles dá trabalho. Demora, por vezes damos passos mais lentos, ou até mesmo atrás, do que gostaríamos, mas, no fim, acredito que há-de sempre valer a pena.

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